domingo, 18 de março de 2012

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - Vida e Poesia

Itabira

Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de outubro de 1902.
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida
Itabira – Fatos marcantes
1910 - Inicia o curso primário no Grupo Escolar Dr. Carvalho Brito, em Itabira (MG).

1916 - Aluno interno no Colégio Arnaldo, da Congregação do Verbo Divino, Belo Horizonte. Conhece Gustavo Capanema e Afonso Arinos de Melo Franco. Por problemas de saúde, interrompe seus estudos no segundo ano.

1918 – ONDA, sua primeira publicação. Aluno interno no Colégio Anchieta, da Companhia de Jesus, em Nova Friburgo; é laureado em "certames literários". Seu irmão Altivo publica, no único exemplar do jornalzinho Maio, seu poema em prosa "ONDA".

1919 -
Expulso do Colégio Anchieta mesmo depois de ter sido obrigado a retratar-se. Justificativa da expulsão: "insubordinação mental".
Ninguém é igual a ninguém. Todo o ser humano é um estranho ímpar.

CONFIDÊNCIA  DO  ITABIRANO  

                   Alguns anos vivi em Itabira.
                   Principalmente nasci em Itabira.
                   Por isso sou triste, orgulhoso: de  ferro.
                   Noventa por cento de ferro nas calçadas.
                   Oitenta por cento de ferro nas almas.
                   E esse alheamento do que na vida é
                   porosidade e comunicação.
 

                    A vontade de amar, que não paralisa o
                   trabalho, vem de Itabira, de suas noites
                   brancas, sem mulheres e sem horizontes.
                   E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
                   é doce herança itabirana.
                 
                   De Itabira trouxe prendas que ora te ofereço:
                   este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
                   este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
                   este orgulho, essa cabeça baixa...

                   Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
                   Hoje sou funcionário público.
                   Itabira é apenas uma fotografia na parede.
                   Mas como dói!
                  Carlos Drummond de Andrade

Belo Horizonte

Em 1920
muda-se com a família para Belo Horizonte, onde vai passar fases importantes de sua vida. É aqui que ele ganha o primeiro prêmio pelo conto no concurso Novela Mineira por "Joaquim do Telhado".

Em Belo Horizonte estudou na Escola de Odontologia e Farmácia de Belo Horizonte onde se formou em 1925, mas nunca exerceu a profissão. Neste mesmo ano casa-se com a senhorita Dolores Dutra de Morais.
É aqui também que começa a se corresponder com outros poetas e a publicar seu primeiros trabalhos.
Em 1926 leciona como professor de Geografia e Português e começa a trabalhar como redator-chefe do Diário de Minas.
Nasce seu primeiro filho no dia 22 de março de 1927, mas vive apenas meia hora. Em 1928 nasce sua da filha e companheira Maria Julieta.
Seu primeiro livro "Alguma Poesia" é publicado em 1928 quando trabalha como funcionário público. Passou de Auxiliar de Gabinete do Secretário de para oficial de gabinete.
 Em 1931 falece o pai do poeta. Carlos de Paula Andrade falece aos 70 anos.

Nesta época o poeta trabalha muito. É Redator de A Tribuna e em 1934 volta a ser redator dos jornais Minas Gerais, Estado de Minas e Diário da Tarde, simultaneamente. Publica "Brejo das Almas".

A Praça da Estação de Belo Horizonte
Carlos Drummond de Andrade

Duas vezes a conheci: antes e depois das rosas.
Era a mesma praça, com a mesma dignidade,
O mesmo recado para os forasteiros: esta cidade é uma
promessa de conhecimento, talvez de amor.
A segunda Estação, inaugurada por Epitácio,
O monumento de Starace, encomendado por
Antônio Carlos
São feios? São belos?
São linhas de um rosto, marcas da vida.
         A praça da entrada de Belo Horizonte,
Mesmo esquecida, mesmo abandonada pelos poderes públicos,
Conta pra gente uma história pioneira.
De homens antigos criando realidades novas.
É uma praça – forma de permanência no tempo.
E merece respeito.
Agora querem levar para lá o metrô de superfície.
Querem mascarar a memória urbana, alma da cidade
Num de seus pontos sensíveis e visíveis.
Esvoaça crocitante sobre a praça da Estação
O Metrobel decibel a granel sem quartel
Planejadores oficiais insistem em fazer de Belo Horizonte
Linda, linda, linda de embalar saudade
Mais uma triste anticidade

Muda-se, com D. Dolores e Maria Julieta, para o Rio de Janeiro, onde passa a trabalhar como chefe de gabinete de Gustavo Capanema. 

RIO DE JANEIRO

No Rio de Janeiro suas publicações acontecem com mais frequencia.  Em 1940 Publica "Sentimento do Mundo", em 1942 a Livraria José Olympio Editora publica "Poesias". Em 1943 traduz e publica a obra Thérèse Desqueyroux, de François Mauriac, sob o título de "Uma gota de veneno".  Em 1944 publica "Confissões de Minas". Em 1945 publica "A Rosa do Povo" pela José Olympio e a novela "O Gerente". 
Em 1960 nasce seu terceiro neto, Pedro Augusto, em Buenos Aires e em 1961 falece seu irmão Altivo.
1982 é ano do 80º aniversário do poeta. São realizadas exposições comemorativas na Biblioteca Nacional e na Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. Os principais jornais do Brasil publicam suplementos comemorando a data. Recebe o título de Doutor honoris causa pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Edição mexicana de "Poemas". A cidade do Rio de Janeiro festeja a data com cartazes de afeto ao poeta. Publica "A lição do amigo - Cartas de Mário de Andrade a Carlos Drummond de Andrade", com notas do destinatário.  Publicação de "Carmina drummondiana", poemas de Drummond traduzidos ao latim por Silva Bélkior.

Em 1987 no 31 de janeiro escreve seu último poema, "Elegia a um tucano morto" que passa a integrar "Farewell", último livro organizado pelo poeta. É homenageado pela escola de samba Estação Primeira de Mangueira, com o samba enredo "No reino das palavras", que vence o Carnaval 87. 

No dia 5 de agosto deste mesmo ano, depois de 2 meses de internação, falece sua filha Maria Julieta, vítima de câncer. "E assim vai-se indo a família Drummond de Andrade" - comenta o poeta. Seu estado de saúde piora. 12 dias depois falece o poeta, de problemas cardíacos e é enterrado no mesmo túmulo que a filha. 

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